Faço desse espaço, uma brincadeira com as palavras e tenho a oportunidade de abrir meu coração, nesse caso, com uma das pessoas mais lindas da minha vida, Glória Brandão.
Em tempos difíceis, faltava dinheiro e sobravam sonhos. Morava em um sobrado, acima de uma grande sucata, na cidade que por nome diria ser os próximos anos, Fortaleza. Traçar um percurso, ficaria mais fácil, por ter um trilho ao lado, o bairro era o Monte Castelo, a rua Sargento Hermínio, o número não sei, também não sei o CEP, mas tenho certeza, foram anos inesquecíveis. São muitas histórias a contar, tem incêndios, cobranças, faculdade, fugas e muitas roupas, literalmente lavadas.
De tantas histórias, lembro nitidamente, o orelhão. Único meio de comunicação com minha família e amigos. Era domingo e fazia sol, eu chorava muito, mas em minha família, homem chorar é regra e não exceção. A segunda feira, chegava. Tinha ultimato, fim de prazo e conclusão. A Universidade cobrava seu valor e aquele seria o ultimo dia da matrícula. Caso contrário, sem semestre, sem aula e sem fisioterapia. O menino apaixonado pelo que fazia, chorava horrores.
Lágrimas e voz trêmula, agora em um orelhão, o barulho do trem, pessoas nas ruas, aos meus ouvidos um som meigo, feliz e incentivador. A voz dizia: "Meu filho, a tia não tem esse dinheiro, mas amanhã ele vai está em sua conta".
A paz, nesse momento, fazia parte de mim, não existia mais conflito, sofrimento e sim uma força imensurável, a vontade de gritar, de tal forma que as lágrimas cessaram, a dor já não existia, era vitória e eu sabia, era a glória. Era Glória, a tia e a madrinha. São lembranças de que fez e faz da vida uma poesia, como canto de amor, por quem foi amado e é amado em todos os seus dias.