sábado, 16 de novembro de 2013

A Glória da Vida.


Faço desse espaço, uma brincadeira com as palavras e tenho a oportunidade de abrir meu coração, nesse caso, com uma das pessoas mais lindas da minha vida, Glória Brandão. 
 
 
 
Em tempos difíceis, faltava dinheiro e sobravam sonhos. Morava em um sobrado, acima de uma grande sucata, na cidade que por nome diria ser os próximos anos, Fortaleza. Traçar um percurso, ficaria mais fácil, por ter um trilho ao lado, o bairro era o Monte Castelo, a rua Sargento Hermínio, o número não sei, também não sei o CEP, mas tenho certeza, foram anos inesquecíveis. São muitas histórias a contar, tem incêndios, cobranças, faculdade, fugas e muitas roupas, literalmente lavadas.
De tantas histórias, lembro nitidamente, o orelhão. Único meio de comunicação com minha família e amigos. Era domingo e fazia sol, eu chorava muito, mas em minha família, homem chorar é regra e não exceção. A segunda feira, chegava. Tinha ultimato, fim de prazo e conclusão. A Universidade cobrava seu valor e aquele seria o ultimo dia da matrícula.  Caso contrário, sem semestre, sem aula e sem fisioterapia. O menino apaixonado pelo que fazia, chorava horrores.
Lágrimas e voz trêmula, agora em um orelhão, o barulho do trem, pessoas nas ruas, aos meus ouvidos um som meigo, feliz e incentivador. A voz dizia: "Meu filho, a tia não tem esse dinheiro, mas amanhã ele vai está em sua conta".
A paz, nesse momento, fazia parte de mim, não existia mais conflito, sofrimento e sim uma força imensurável, a vontade de gritar, de tal forma que as lágrimas cessaram, a dor já não existia, era vitória e eu sabia, era a glória. Era Glória, a tia e a madrinha. São lembranças de que fez e faz da vida uma poesia, como canto de amor, por quem foi amado e é amado em todos os seus dias.

domingo, 10 de novembro de 2013

Na Casa de Adísia Sá.

 
Esse texto foi escrito em dezembro de 2009, em comemoração a uma das mais brilhantes comunicadoras do Ceará, por quem tenho grande admiração.
 
Estamos nos preparando para a grande festa do ano, o nascimento de Jesus, momento ímpar para o cristianismo. Momento importante no qual devíamos nos convidar a refletir sobre nossos atos e atitudes, isso possivelmente não seja alcançado, por que todos correm ansiosamente, prova disso é o trânsito maluco nos últimos tempos, sem falar nos shoppings e em tudo que envolva o consumismo, uma reação estimulada pela agressividade publicitária nessa época do ano.
Temos que comprar, talvez seja esse o termo mais usado nesses momentos de festas. Não consigo estar envolvido nesse processo eufórico, mesmo assim, estou sendo interrompido agora mesmo, para ser comunicado: "os nossos funcionários ficaram felizes com as lembrancinhas de natal". Não posso criticar o sorriso dos meus colaboradores ou o rosto estampando pela alegria na criança diante do brinquedo novo, no pai de família ao receber cesta de alimentos.
Façam a festa, essa é de todos os que sonham com a roupa nova, o carro do ano. Temos de investir na alegria de sonhar e nos emocionarmos realizando sonhos outros. Me faz  lembrar o  DVD do Chico Buarque, Chico e as Cidades, nesse DVD ele fala do sonho de infância, morar na casa do Oscar, referindo–se a um projeto de Oscar Niemeyer para a residência da família Buarque de Holanda, sonho frustrado. Chico não pôde morar na casa do Oscar.
Nesse ano de 2009, foi comemorado 80 anos de Adísia Sá, o jornal O Povo publicou um caderno especial sobre a mulher e profissional, o marco na comunicação, perdi as contas de quantas vezes degustei do seu saber naquelas páginas em sua homenagem, frases fortes e identificadas em valores por mim admirados,  "Ninguém me toma de mim", ao mesmo tempo lembro uma frase de Chico "Música do tom é casa do Oscar". Na música ele encontrou a casa que um dia sonhou morar, no cuidar de pessoas busco encontrar a sabedoria da maestra Adísia.
Chico não realizou seu sonho em morar na casa de Oscar, quem sabe realizo o meu de ir bater um papo, tomar um café na casa da Adisia Sá.
E que todos em sua fé possam comemorar, cada um do seu jeito, com seus valores essa grande festa.

Feliz Natal.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Lembranças de Quixabinha

Ainda menino de voz sobre mudanças, sem tom,  com  fortes graves e agudos intensos,  traços impulsivos e  magérrimo. Sinto cheiro da poeira, do carro que nos traz, quando freia para abrir a porteira. Chegamos a Quixabinha a 15 km de sua sede, cidade de Mauriti, distrito de Palestina, interior do Ceará. Distante 519 km da capital do estado, Fortaleza.  Bem próximo de minha cidade natal, Crato. Nosso espirito aventureiro chamando atenção do Sr. de face em rugas, cabelos brancos e escassos, sorriso e voz altiva a nos receber, pai do meu pai, Sr. de tantas histórias. Naquele momento as expectativas estavam voltadas ao mar sem ondas, as ilhas, as pescas e aventuras no olhar daqueles meninos, eram os 31.782.000m3 aos quase 30° do mês de férias, dos dias inesquecíveis em Quixabinha.
Um mar aos nossos olhos e a canoa fluía em braços fortes do senhor anfitrião, ele sempre sentado no meio da canoa, equilibrando as águas, eu a frente e minha irmã ainda menina, bem mais posterior. Entre espelhos d'agua e braços amarrados a cordas, sobre o mais absoluto e rigoroso domínio, daquele que disfarçava o não cuidar, dele não vinha o educar e ao mesmo tempo a alegria de aventurar ao lado dos seus.
Pular em águas e sentir novas sensações, lembranças e passos de quem tinha condições de experimentar o novo, de quem inconsequentemente se entregava a aventuras, eram meninos e esses mesmo nascidos em cidade próspera, com suas regras e altivez, sorriam e brincavam desconhecendo o perigo ou medo. Livres em formas e funções, construindo de suas maneiras o novo olhar diante da vida.
O açude construído na década de 70 pelo DNOSC para amenizar os problemas da seca, nesse dia nada mais era que o cenário para mergulhar em águas e superar desafios desconhecidos, mesmo ainda tão jovens e crianças soltos por águas, presos pela corda entre ilhas. Velho sábio oferecia liberdade, mesmo tendo tantos saltos em seu domínio.
Reminiscências, de tão longe, guardadas no fundo do baú, feito eco de voz que de tão forte, ouvidas no meio das águas distantes, era o amor de quem ama incondicionalmente, de quem gera e traz a vida. Aos olhos dos meninos livres e amarrados, a imagem nítida da barreira que impede as águas do Quixabinha escorrerem e desabarem, perdendo assim seu proposito, superar a seca. De longe a figura da mulher em seu desespero protetor, mesmo não tendo oferecido o alimento por seus seios, abria o grito por entre seus peitos, repreendendo a todos, que de tão longe, tornavam pequenos naquela canoa.
Os meninos mesmo inocentes tão quanto o velho, manifestavam através de gestos e braços as ferramentas que os protegiam, mas o amor que cegava aquela mulher, não fazia enxergar as cordas amarradas aos punhos desses meninos e de seu avô, feito fortes correntes, não tão frágeis como cordão umbilical que os unia a genitora.
Nascia naquele instante o fim das férias, incentivo ao medo e a continuação das regras, justificando tamanho amor, em laços de proteção, de quem só ama pode sentir. À volta pra casa, à terra vermelha e seca no meio de pedras ou as pedras entre terras promovendo poeiras sob cactos e a falta do espelho d'agua do Quixabinha. Das suas ilhas, das piabas fritas as suas margens, das meninas em vestidos molhados, modulando corpos em erupção, dos olhos verdes e longos cabelos loiros, da linda menina que me encantou, dos quais me trazem lembranças, o despertar. O fim de uma infância e começo de uma nova era.